terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O FIM DO FORRÓ

Olha pra mim! 
Veja o meu estado! 
Não consegues me reconhecer né?
Pois é! 
Como mudei, “e pra pior”.
Meu fim está próximo.
Fim dos tempos do forró.

Tempos estes que o meu rei “Seu Luiz” com muita luta e determinação, com sua alegria e irreverência, em meio a uma época de desprezo e total desvalorização do povo nordestino, venceu todos os preconceitos e mostrou para o mundo através de mim, o valor do nosso povo, da nossa alegria, das nossas belezas, e o quanto é dura a vida do nordestino, que mesmo sofrida, nunca impediu- o de sonhar, nem de escancarar o seu largo 
sorriso, autêntico deste povo.

Tempos estes que “Dominguinhos, Marinês, Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro, Pedro Sertanejo e outros”, tanto se preocuparam em manter- me, conservar- me como sempre fui, autêntico, alegre, puro, e conseguiram! Sou muito 
grato pela grande contribuição que me deram.
Tempos estes que “ Mastruz com leite, Magnificos, Mel com Terra, Eliane, Baby som, Katia di Troia, Rita de Cassia e muitos outros” me deram um novo visual, 
fiquei mais rápido, mais vibrante, mais moderno, romântico, mas é claro, sem perder minhas origens, continuei sendo o que sempre fui, fiquei mais diversificado, 
mas nunca deixei o meu regionalismo de lado. 

Até aqui sempre fui bem cuidado, sempre transmiti minha verdadeira mensagem, 
que era de levar a paz, a alegria, o amor, e a coragem ao povo nordestino 
para continuar sua incessante luta.

Tempos estes, que ficaram para trás, e aos poucos fui deixado de lado, 
as novas gerações que cujos 
nomes não gosto de mencionar e que aos muitos foram surgindo (a partir de 2005), 
não se importaram comigo, não me deram o devido respeito e cuidado que 
merecia, e como se fosse uma doença 
grave, apropriaram-se de meu nome para propagar a anticultura, 
mensagens profanas que não condizem 
com a minha existência, e propósitos que fogem da minha
 índole e que muito destruíram minhas raízes, infelizmente, 
hoje sou tratado apenas como um veículo de propaganda (gravadoras piratas), 
lavagem de imoralismo, e pornografia musical.

Tempos estes que percebi que eu não era mais o mesmo, mal sabendo que começava ali minha decadência, piorando a cada dia, mal influenciado por inglórios que se dizem “bandas de forró” (e não são), “mas não sabem sequer o meu significado”. 
Hoje sou sustentado apenas por aqueles que ainda medem esforços 
para manter-me vivo, e medicado por uma minoria que ainda acreditam na minha existência e  na minha verdadeira mensagem.

Tempos estes que dominaram e fraquejaram- me, 
fui jogado em um canto sujo e escuro,
 e hoje estou aqui entregue ao tempo, vivendo ainda apenas das boas lembranças,
 lembranças de um tempo alegre, e de um passado puro, intenso, único e verdadeiro,
 que quem viveu daria tudo para viver novamente, 
e certamente, firmemente nunca mais se 
esquecerão. 

Talvez quando se depararem com estas palavras eu 
já tenha partido, 
por isso despeço- me aqui dos meus amantes
 e daqueles bravíssimos pioneiros, 
desbravadores e 
defensores que lutaram e que ainda lutam 
pela minha bandeira. 



Felipe Vitorino 
é estudante de Engenharia, 
natural de Balsas e mora em Teresina - PI